terça-feira, 1 de novembro de 2011

Nem

Há tempos que me deixava levar por idéias radicais, como se o radicalismo fosse evidência de firmeza de caráter e opinião, de consistência, de substância e fidelidade. Por fim, descubro que extremismos são nocivos, levam ao preconceito e à uma rigidez tola de postura. Como nos lembra Chico Buarque, em resposta à sua omissão na passeata contra a guitarra elétrica: "nem todo lucidez é velha, nem toda loucura é genial". E digo mais.

Nem toda musa é bela. Nem todo filho é pródigo. Nem todo samaritano é bom. Nem todo gênio é louco. Nem todo vice é versa. Nem toda lei é constitucional. Nem todo clichê é banal. Nem todo cigarro é fatal. Nem todo último cigarro é o último. Nem toda poesia tem verso. Nem todo sexo tem gozo. Nem todo gozo tem amor. Nem todo amor é cego. Nem toda grama é verde. Nem todo narciso é só ego. Nem todo deserto é sede. Nem todo poema é beco. Nem toda raiz é quadrada. Nem toda doação é gratuita. Nem toda traição é fortuita. Nem todo spielberg é ficção. Nem toda ficção é mentira. Nem toda mentira tem perna curta. Nem todo sexo é seguro. Nem todo seguro é seguro. Nem todo filho é da puta. Nem toda puta é mãe. Nem toda mãe é sagrada. Nem toda água é de março. Nem todo vento é de maio. Nem todo virgem é cabaço. Nem todo sexo é desmaio. Nem todo nervo é de aço. Nem todo trem é de ferro. Nem toda comédia é divina. Nem toda bossa é nova. Nem toda lolita é menina. Nem todo defunto tem cova. Nem todo carnaval é em fevereiro. Nem toda quarta é de cinzas. Nem todo campeão vem primeiro. Nem todo bruce é lee. Nem todo jackie é chan. Nem toda lee é rita. Nem toda grupe é fã. Nem todo ponto é final. Nem todo final é feliz. Nem todo desenho é animado. Nem toda asa voa. Nem todo baiano é à toa. Nem todo jejum é manifesto.

Nem todo político é corrupto. Mas isso são apenas aforismos. E nem todo aforismo é correto.

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