quarta-feira, 4 de novembro de 2015

a elegância do exagero


O exagero não está nos fatos, números ou posições descritas, mas na carga dramática injetada nos poemas que para muitos poderão soar desnecessariamente obscenos e escatológicos. Não foi minha intenção chocar, nem poderia ter tal pretensão, pois sei que vários já o fizeram muito melhor do que eu faria, ainda que deliberadamente. Minha única intenção foi buscar ser o mais preciso e espontâneo e honesto com o ritmo da minha escrita e com a necessidade de encontrar um estilo único de corpo e poesia.

Abaixo o link do livro (recomendo baixar, porque a visualização está separando alguns versos - erro que não ocorre no formato baixado):

https://es.scribd.com/doc/288524072/A-Elegancia-Do-Exagero 

Boa leitura!

quinta-feira, 30 de abril de 2015

gabriel p. vieira




4 trepadas
contos-ejaculações








1. Educação sexual

ela era uma ninfa. um buraco aveludado. uma fenda rosa e úmida. tinha 18. indaguei-a sobre deus sexo e drogas. ela era um demônio lindo com a mata mais exuberante que eu já tinha visto. ela me perguntou pelo meu quarto. mostrei a ela.

no quarto se deitou. embriagada.  a expressão doce se tornou agressiva - espinho cravado na palma da minha mão suada. os seios apontaram para o norte.
disse que não faria nada com ela, que bêbada daquele jeito me crucificariam: semi-virgem deflorada por barbudo maconheiro.

um tapa estalou na minha cara. os olhos grandes e suaves agora braseados me exigiram sexo.

agarrei-a pelos cabelos, desabotoei um por um os botões da camisa, sem pressa, deleitando-me antes do sexo, com a idéia de sexo. prevertê-la na minha cama.

falei que não tinha camisinha, ela disse que tomava pílula. esbocei uma penetrada. ela deixou. parei com a glande dilatada enfiada pela metade na buceta. parei, a expressão dela era de apreensão. falei com ela que não trepasse com ninguém sem camisinha, pílula ou não, simulei uma pequena aula básica educação sexual.

busquei um pacote de camisinha. a coloquei sentada na minha frente. a boquinha afogada no meu pinto em ângulo de 120 graus. exigi-lhe que colocasse o preservativo com a boca.

penetrei-a com ela sob mim. enterrei a haste, rocei meus pentelhos nos dela, minha boca esfumaçada abafava os gritos na penumbra pornográfica. ela fechou os olhos: mina explodindo no subterrâneo frágil da cavidade nua.

as janelas abertas denunciavam aos vizinhos que sexo (e sexo bom) estava sendo feito. fechei as cortinas, perguntei-lhe se ela sabia o que era espanhola, fui direto aos seios com meu pinto sujo de porra da primeira foda, bicho festejando entre dois montes de algodão.

mais uma vez a boca de língua quente e dentes macios pôs a camisinha. coloquei-a de 4. uma cordilheira de violetas furiosas na espinha de suas costas. uma aranha armada, minha arma quente inteira no infinito do abismo de rosas.

soquei o pinto, batendo o saco na bunda resistente, seus braços desfaleceram, sua cabeça cedeu, só a bunda empinada e ela mordia os lábios soltava gemidos gozava falei putaria. levantei a cabeça puxando os cabelos lisos e castanhos. ela ergueu-se novamente. abri a palma da mão, enchi-a com a carne fresca, vi sonetos expelidos pela buceta quando gozei pela segunda vez.

da terceira tentei chupar a buceta. ela não deixou, por algum motivo escuso, insisti e nada. levantei sua perna esquerda e novamente fodi fodi fodi com a disposição de dez bodes apocalíptcos.

as camisinhas acabaram. tentei penetrar novamente sem; ela deixou; falei novamente que não deixasse, fiz uma revisão da aula que dera e peguei mais um pacote.

a cama chiava já, papai e mamãe, eu me afundava em seus peitos com a fome de um recém-nascido.gozei pouca porra, o saco vazio, o doce na cabeça, o coração ansioso. sai para buscar água. suava toda a anfetamina o álcool os dedos amarelados de cigarro.

cheguei ao quarto depois de uns vinte minutos regozijando com a imagem da menina nua sob meu cobertor de lã sujo. levei-lhe um copo. enquanto bebia, via a garganta entornando a água, tive pensamentos libidinosos. quinta vez, estava na hora de tentar algo a mais. pedi um boquete demorado, ela se sentou na cama, minhas pernas peludas dobradas sobre sua cabeça ardente. depois mais um pouco de sexo convencional. terminamos, ela me perguntou qual era minha posição preferida, com inocência de menina que fora desvirginada por um namorado moleque que não sabe merda nenhuma, moleque como eu mesmo fora.

saí para fumar outro cigarro, fumei um baseado, lembrei da putaria que acontecia e com o pinto semi-ereto voltei ao quarto. não sei se tentava dormir ou não, mas ao perceber o movimento no quarto abriu os olhos. beijei o pescoço, babujei as orelhas de lebre safada,  levei sua mão ao meu pinto esfolado de duas horas de sexo.ela disse que nunca se cansava. não tardou alguns segundos e eu já a colocava de quatro novamente. pedi o cu brincando de colocar a cabeça do pau no anel pecaminoso. ela, como era de se esperar, recusou. gozei a seco e por via das dúvidas alcancei mais três camisinhas. talvez de manhã (fodíamos desde as onze e já era duas da madrugada). fodi ainda uma última vez, sem gozar, hormônios prazerosos passeavam-me nas veias.

dormi de pau duro, meu membro agasalhado na sua bunda cochilava sorrindo. de manhã, mal fodemos, três bombadas no pêlo, ela deitada em concha, encaixada em mim. levei-a para casa. vitorioso da maratona sexual e de ter apresentado o sexo real para uma adolescente indescritível.  depois soube de muitos outros casos que ela tivera. ela não era lá tão inocente. mas que se foda. era uma gostosa!





2.  O priapo

fazia três dias que eu não me masturbava nem tinha qualquer relação sexual. era uma das exigências de um espermograma que faria pra saber meu nível de fertilidade. sentia meu saco pesado, minhas bolas estavam doloridas e meu pensamento não ficava mais que poucos segundos longe de sexo. eu era um sátiro e ficar abstinente estava sendo um martírio. me sentia um pré-adolescente constrangido com uma ereção intermitente e incontrolável, um priapo com um pau que nunca ficava mole, uma tromba balançando entre as pernas cabeludas.

finalmente fiz o exame, tomei banho, mas sem me masturbar. eu não iria desperdiçar o potencial daquele acúmulo forçado. iria me encontrar com ela e faria a mais suntuosa e elaborada lambança que eu jamais fizera. minha porra iria preenchê-la em todos os buracos que o jorro farto encontrasse em seu percurso leitoso. já imaginava meu pau explodindo em seu rosto, martelando sua maça, desfolhando a rosa colombiana que guardava entre as pernas e  o sêmen escorrendo no rosto, nos lábios umedecidos, nos seios nus.

cheguei em sua casa, a beijei demoradamente. depois carinhosamente alisei o cabelo castanho, os olhos claros brilhavam de ternura. então subitamente minha mão agarrou firme seus cabelos, o coro cabeludo resistia, virei seu rosto, ergui minhas mãos que estalaram um tapa na cara. os olhos ternos entupiram-se de raiva libidinosa, a mesma raiva que escorria no meio de suas pernas. lancei-a na cama.

segurei seu corpo. as tetas balançavam de forma circular. abri as pernas, me abaixei, senti o gosto acre e doce da buceta molhada, da flor aberta embebida em saliva. o clitóris era uma pepita saltando para fora da mina, uma castanha açucarada, eu brincava pressionando-o com minha língua, enquanto meus dedos escalavravam as paredes da gruta encharcada. ela convulsionava a cada toque, tomei fôlego, o odor saboroso preencheu minhas narinas, enfiei meu rosto na buceta. meu nariz tocava o clitóris enquanto a língua bandeirava-se relva adentro e dentro da gruta minha língua coral explorava todas as paredes túmidas da vagina.  meu dedo hiperativo tateava em busca de seu outro buraco, achou-o e lançou-se no poço escuro. a língua afundava-se no areal movediço, o dedo suicidava-se no fosso. meus olhos enxergavam o interior em chamas. gostava de sentir sua contorção de prazer, meu pescoço doía e eu prosseguia. ela, ofegante, apertava os dedos da mão suada. depois uma enchente inundou o rio, transbordou a bacia, afogou as plantas, dilacerou as formas de vida, ela desabou. com a pele cáustica e os lábios avermelhados e o útero sensível levei meu pinto musculoso e já sujo de um pouco de porra liberada pelas preliminares. meti sete vezes e detive-me. eu ia gozar na hora certa e ela não era chegada. meu pau respirou, tomou fôlego e voltou a chacoalhar suas vísceras envenenadas. sua visão parecia fugir, a cabeça tombava de cansaço, segurei-a e fiz com que me mirasse e retornasse a si. quando me encarou, peguei sua perna esquerda, virei-a de lado, coloquei a perna esquerda sobre a direita, a bundinha arrebitada pra mim e meti mais algumas vezes, forte, ríspido, agressivo. ela era uma cadela no cio e eu era o cão descontrolado, o bisão, o monstro molestador que a dilacerava. parei. ela voltou a si. então coloquei seus calcanhares no meu ombro, as pernas ainda afastadas demais, ajeitei, apertadinha vi a boquinha rosada expelir um líquido lubrificante, os lábios inchados, e coloquei lá dentro, o mais fundo, até a base. meti tudo e fiquei um tempo, mandei que ela rebolasse. ela cavalgou, elevava-se e descia, escorregava e tornava a me lambuzar os pentelhos com as seivas vaginais que já tinham encharcado minha barba volumosa. e acelerei. minhas bolas batiam no seu rabo quente. desavisadamente a virei de bruços. estalaram-se inúmeros tapas nas nádegas agora marcadas. ordenei que empinasse; com o olho fechado e o resto do corpo adormecido, ela empinou. entrei mais fundo ainda. a fissura rosada me espiava. quis comê-la pela retaguarda. meus músculos incharam, minhas articulações ferviam, meu pinto pungia de tão duro, senti meus testículos produzindo litros de esperma quente e espumoso. a cada metida, mais eu queria gozar, mais porra meu saco produzia, mais meu pau doía de duro. estava concentrado como jamais estivera. eu era meu corpo, um sistema funcional, eu era engrenagens libidinosas, sangue efervescente, era meu sistema nervoso dizimando-se a si mesmo numa inundação de sinapses perversas e pervertidas. ia gozar. mandei que se ajoelhasse na minha frente. seu rosto sentiria o jato quente, meu pau bagunceiro gosta dessas putarias. e gozei. a porra inundou o rosto, seus olhos prudentemente fechados, escorreu nas bochechas, nas pálpebras, nos lábios. eu a havia marcado com minha indelével assinatura. a conquistei, a dilacerei, molestei sua alma, violei seu espírito. ela era minha. e sempre seria.





3. A lua

pedi que ficasse de quatro e ela ficou, me dando a imagem daquela lua voluptuosa, da carne branca e frágil, da consistência duvidosa da coxa e da barriga morna; depois, ganindo em forma de concha, virou a bunda redonda pro meu lado; as veias da bunda formavam um mapa hidrográfico onde barcos naufragavam e canoas se dissolviam em francos gritos de dor e beleza, córregos de dopamina, árvores de morfina, sucos opiáceos distribuídos pela coxa virilha pescoço barriga seios ânus boca cabelo pêlos joelhos membranas braços e unhas.

mandei que ficasse de quatro. ela obedeceu, com cara de safada, o olho quase fechado, ficando de quatro e olhando pra mim, virando a cabeça e insinuando a buceta e acima da buceta o cu limpo e apertado. gozamos.
fomos ao chuveiro, a água caía forte sobre meu coro cabeludo em febre e minha mão descia, ora pro meu pinto, ora pra buceta dela; ora ela chupava meu saco, ora eu chupava-lhe as mamas; encontrei o clitóris - pitanga em brasa fumegante; virei-a de costas, lambi as asas, a espinha, desci o dorso lixando minha língua de tamanduá pornográfico, cheguei ao cu – buraco sórdido e fervilhante por onde deus espia as graças vis e infames; linguei o buraco e aqueci dois de meus dedos da mão esquerda naquele poço de ácido.

quando eu comecei a visitá-la por trás, meu pinto entrava com certa dificuldade naquela estreiteza herege; sodomiza-la era todo um processo, mas, desde que a cabeça do pau entrasse, o resto entrava com facilidade. depois de algumas enrabadas, no entanto, a prática começou a mostrar dificuldades. meu pau entrava, mas depois da primeira bombada, ela sentia uma dor insuportável. quando o pinto saía, ela desabava no canto da cama. depois de uns dias, eu não mais lhe pedia e esperava que ela propusesse a prática ardente. quando ela pedia, eu colocava a camisinha, pegava o lubrificante, lambrecava meu pinto e o contorno do anel com ele e, duro, esperava que ela colocasse o falo da maneira que lhe fosse menos dolorido. não queria empalá-la, embora admita que, desde que ela estivesse disposta a suportar a dor, não me incomodava o processo.

sua anca ficava ondulando na minha cabeça o dia inteiro. quando eu menos esperava lá estava a enorme bunda lisa e convidativa, a cavidade úmida e aberta rebolando à minha frente. e eu desejaria apenas ficar fodendo a bunda, a bunda enorme lisa e convidativa empinada, as costas curvadas de onde escorria seu suor, um pouco do meu suor e alguns outros fluidos surgidos da cópula interminável. vez em quando a agarrava pelo cabelo fazendo com que ficasse de quatro e suspendesse as tetas pra que minhas mãos pudessem agarrá-las o quanto conseguissem conter na mão. eu estapeava as nádegas famintas e a  buceta sorria enquanto o orgasmo sincronizava-se com o estalo. depois, já exaurida, deitava-se de bruços e a bunda continuava a sorrir enquanto meu pau declamava poesia para os orifícios da anfitriã cansada, mas sempre solícita. eu me deitava com o mastro erguido e ela vinha com as costas virada pra mim e sentava na madeira por onde passavam veias repletas de sangue hormônio e porra. e pulava com energia de uma lebre no cio, cavalgava no meu pinto como se fosse um brinquedo que acabara de pedir ao papai noel. e quando cansava deitava-se de bruços novamente até que eu me cansasse meu pinto se cansasse a buceta se cansasse e todos descansassem no mais profundo e deleitoso vácuo do torpor.





4. MILF

numa afobação que eu nunca tivera antes, um cérbero sexual bufando no meu crânio, idéias desconexas nas veias roxas, algo assim que foge completamente do meu propósito puramente físico-cerebral de apreender as lições sexuais mais atômicas... parecia que eu voltava a ter quatorze anos; ela não me repeliu; ao contrário, incentivou e me guiou de forma estranhamente didática pelos lábios úmidos, pelas coxas duras de rã, pelas nádegas naturalmente estriadas, pelos seios rejuvenescidos, pelas orelhas que cheiravam a avon, com os olhos envelhecidamente esbraseados. minha antiga professora de ensino médio que nós saboreávamos nos salões imperiais soberbos, em capitanias libidinosas, nas quedas de bastilhas luxuriosas, a professora coroa que desviava nossas atenções dos peitinhos adolescentes das colegas de classe pra devanear nos seios fartos, na voz rouca, ignorando o quadro negro, a política do café com leite e toda essa merda que não acrescenta nada em vista do conteúdo ilimitado da cobiça sexual que a bunda na calça jeans inspirava.

eu a encontrei por acaso e descobri que estava morando perto de mim. quando falei do encontro casual, alguém comentou que ela estava recém-separada de um noivo. na época da escola, eu era um dos melhores alunos, dos que mais a estimulava e lhe inspirava a continuar com a meta pedagógica que sonha todo professor por vocação e lembro dos textos pseudo-intelectuais esquerdistas que eu declamava para a sala enquanto ela quase chorava de emoção. eu era o cara perfeito pra fodê-la, pra realizar tardiamente todas as fantasias que nossa condição de aluno proibia.

mas agora ela percebeu que eu não era o garoto magro e desajeitado, a barba crescida, o diploma, as roupas de bom gosto; talvez tenha desejado, desde o momento do reencontro, que eu a fodesse com toda a energia com todo o vigor acumulado, talvez quisesse me dar desde aquela época sem que o soubesse e apenas agora a vontade permitisse se mostrar sem nenhum tipo de restrição ou censura.

e a fodi fodi pornograficamente com as luzes acesas enquanto a filha da minha idade dormia a alguns metros em outro quarto. imaginei os orgasmos da filha. talvez fossem parecidos com os da mãe, mas a mãe tinha mais conhecimento do próprio corpo e o clitóris desabrochava fácil entre minha língua anestesiada e meu indicador curioso; a coloquei ajoelhada puxando os cabelos pra que ela me mirasse enquanto me chupava, os olhos semi-fechados, o narizinho arrebitado, minha vontade de gozar contida.

no dia seguinte, acordo com uma bossa tocando no antigo microsystem. o som despertou a mim e a meu pinto e depois de um gole de café e de uns pãezinhos caros da padaria de perto, ainda de cueca - a filha já tinha saído - fui em direção a ela que tinha as mãos e o corpo livre; ali mesmo na cozinha meu pau duro salientou na cueca branca e fui despindo-a da roupa que ela colocara para ir à padaria comprar os pãezinhos caros apenas pra me agradar. eu sabia que ela não o fizera por conta do meu desempenho na cama, nem pela situação meio maluca, mas porque provavelmente fazia isso com todos, talvez comprasse sempre os mesmos pãezinhos e tirava dessa situação algum prazer íntimo de cuidado, e eu ainda que lamentasse a iminente transitoriedade da relação aceitei de bom grado todos os mimos que a senhora me ofertava.

depois de dois dias, ela me ignorou por completo. eu não sabia ao certo como agir, quais os meios de comunicação utilizar, quais palavras, qual o tom, afinal de contas ela era bem mais velha, bem mais experiente e seria difícil enrolá-la com o discurso plasticamente belo e aparentemente profundo mas essencialmente estéril que eu utilizava com as outras mulheres. com ela era difícil, era delicado caminhar na superfície de sua consciência com meu discurso lacunoso, era perigoso, um erro poderia ser fatal. até que descobri que, errando ou não, aquela insanidade deliciosa prescreveria, como um contrato de locação de onde o locador não quer sair mas cuja chave já não se encontra em sua mão. era assim, eu queria permanecer mais um tempo acampado na buceta dela, colhendo as margaridas que as abelhas devoravam, trabalhando na terra que minha inchada sulcava sob o som tribal de atmosfera noir, observando os astros que gravitacionavam ao redor de seu umbigo de suas ancas de seu cu. e virei apenas mais um observador amador de sua vulva.


quarta-feira, 25 de abril de 2012


se a gente não paga mais meia
pra entrar no cinema
sem problema
voltamos pra faculdade
ou se você ainda não tem idade
sem dilema
a gente falsifica 
sua identidade
se a cerveja encareceu
não é problema meu
muito menos seu
a gente bebe cachaça
com mel
ainda que não mais  se faça
cigarro fiado
a gente compra
com esse trocado
meia dúzia
de marlboro picado
se a gasolina está cara
a gente vai a pé
e se mesmo pra rezar 
é preciso dinheiro
a gente acaba com a fé
ou com o desespero

quinta-feira, 22 de março de 2012

Textura

Foi então que meti na cabeça o propósito de ser cronista. Enchi o copo, acendi um cigarro e comecei. O processo, sabia eu, a exemplo dos grandes projetos, seria lento, doloroso, masoquista, como o gozo de arrancar com pinça um teimoso cabelo encravado ou incitar o ciúme da namorada.

Antes de qualquer coisa, era providencial ir à biblioteca, ler os clássicos, a fim de aperfeiçoar o estilo, tornar o texto mais articulado, o ritmo mais desenvolto, sóbrio. Ou mesmo (por que não?) começar plagiando o estilo dos grandes até amadurecer o meu próprio, como o pupilo que imita o ofício do mestre para, por fim e um pouco decepcionado, superá-lo. Mas não. Os clássicos são insuperáveis e minha visão limitada; o pasto é grande, e o boi está longe...

Feito isso, resta escrever, certo? Ainda não. É preciso rebuscar a escrita, ler gramáticas, alguns pronomes pessoais transferíveis e intransferíveis, decidir sobre o quê escrever. Sobre o cotidiano, certamente. Mas o cotidiano é vário e inconstante. Mal traço uma conversa e a conversa muda de rumo, desembocando num córrego, num aterro, numa cova. Deve-se, pois, ir atrás, enlaçar o cotidiano - com um nó frouxo, claro - mas enlaçá-lo, reter-lhe nas mãos, apaziguar as ondas de letras do teclado.

Ser cronista, então, começa a se tornar algo burocrático, enfadonho, fardo demasiado pesado, desgostoso, tanto pra quem lê, quanto pra quem escreve, ferindo a sensibilidade do escritor e do leitor. É necessário embriagar-se, fazer girar o verbo, bolinar o substantivo, ser avaro, cobiçoso, imoral, gigolô. Já se sabe a altura, a textura da pele, o peso da crônica, sabe-se a cor do vestido que usa, de que é feito, se está ou não na moda, se é de grife ou não. Agora é imprescindível espiar-lhe debaixo do vestido, dizer-lhe inocentes imoralidades, cortejá-la com a firmeza do músculo e da voz, acrescentar exclamações, interrogações, reticências absurdas. Ser e mostrar-se homem feito, maduro, forte, e louco.

Acima de tudo, parecer louco, apaixonado e desesperado, como o grito abafado do subúrbio, do funcionário público poeta nas horas vagas, da atendente sem ambições da loja de sapato. Esquecer os grandes acontecimentos do mundo (desastres ambientais, políticas de reforma social, queda ou alta do dólar, déspotas destituídos, a quantas anda a guerra do Iraque, Obama, a mulher de Michel Temer, o desaparecimento de Belchior, Haiti, holdings, corrupção no sistema carcerário) e lembrar da dama do lotação, das inúmeras damas de lotação sarapintando pintadas e louras dentro de rinocerontes metálicos abarrotados de pernas, odores, carteiras, sacolas, refrigerantes. Redescobrir os bêbados, os sambas, as putas, os irrelevantes escândalos familiares, as pequenas falências, crimes de amor, ler tablóides ordinários (Abaixo os vigilantes intelectuais!).

Mas, depois da fase de desbunde, revolta e insanidade, é necessário ir tratar-se: uma estadia tranqüila num spa, numa fazenda, num hospício. Acalmar a linguagem, recolocar-lhe rédeas e rumo. Resignar-se com as falhas de caráter de alguns homens, com a falta de escrúpulo de algumas mulheres. Ler poesia, conversar com avós (ainda que não os seus); tomar sorvete, quando calor e chocolate quente, quando frio; beber, socialmente, uma ou duas cervejas geladas numa tarde abafada. Preparar-se por fim para a formatura, para tirar o diploma, a foto do convite, parecer disposto para o mercado com tantos desempregados. Mas é preciso ter esperança de que tudo dará certo e de que, daqui a dois ou três anos - no máximo! - você já estará estavelmente empregado, pagando as prestações do consórcio, começando a conhecer candidatas para o matrimônio. Depois, casar, ter filhos, educá-los melhor que seus pais o educaram, na certa cometer alguns erros parecidos, mas amá-los. Acima e além, amá-los! E amar cada crônica bonita, suja, caduca. Amar cada uma como se fosse o primeiro filho, a primeira mulher, a primeira promoção; como se, cada uma fosse uma perpétua e inigualável epifania.

domingo, 18 de março de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Poema calado

Nem nasceu
já foi censurado

outro poema exagerado

quando deus te pariu
se contorcendo na dor pálida do parto
vomitando os átomos delicados que a compõem
repousando depois sôfrego sobre uma galáxia extinta
histérico e absorto
num desentendimento de presa distraída 
tentou inutilmente cortar o próprio pulso 
se enforcar na linha do equador
se afogar na lama do caos
depois que lembrou que não inventara a morte para si
e que nem ao inferno poderia ser mandado
pra que um demônio o distraísse com os jogos sádicos das trevas
nem com o fogo purificador do subterrâneo
e que nem o céu o saciaria com os opiáceos angelicais
ou com a morfina tranqüilidade das nuvens
ou com a enfadonha careteza do éden  
quando constatou isso tudo
num momento de ira resignada e rancor acre
num gesto terrorista e profano e numa dor de boca desmamada
me criou