segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Crônica sobre nada

Como quando descobri que com minha poesia não dava pra fazer música. Fiquei pra baixo, decepcionado, completamente desolado. Por que afinal, então, eu continuava a escrever aqueles versos se eles nunca seriam acompanhados por um violão cadenciando, um pandeiro sincopado, uma cuíca chorosa? Ou por um guitarra arranhada, um baixo pesado, percussões desorientadas? Pra que continuar, se eu estava fadado a não ter a romântica e inconseqüente vida boêmia, repleta de mulheres, bebidas e lágrimas? Dois ou três acordes, eu já estava satisfeito.

Mas não: "com essa rima, não dá pra fazer música", " esse verso tá grande demais" , "falta sonoridade". O que exigiam de mim? Que calculasse a emoção, equacionasse a dor, e colocasse redondilhas e rédeas na espontaneidade tão dificilmente conquistada ?

A primeira reação, nem um pouco imprevista, diante do fato, foi a de revolta e da negação. Depois veio a dor, agonia, desespero, etc. Parei de escrever, sucumbi a um breve hiato criativo. Por fim a resignação.

Em breve, já estava voltando a escrever meus poemas de versos longos e sem sonoridade. Como um adolescente que, depois do fascínio da esquerda, compra um computador e entra na faculdade de direito.

Mas hoje, depois desses anos de faculdade, voltei a sentir a revolta, tentei fazer um samba, um choro, uma bossa. Fui montando esse tetris da vida com frustrações clichês, metáforas pobres, dores banais. E hoje vejo, claro como o Arrudas, que também posso remontá-la com esperanças fúteis, amores platônicos, paixões imaturas, pirraças e palavrões.

Só resta agora alguém vier me dizer, certamente com toda razão, que esse texto também não serve como crônica.

3 comentários:

  1. Calma, ainda há esperança pra suas rimas desritmadas e cacofônicas !

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  2. discordo. pelo menos em relação aos poemas que li de vossa autoria. são docemente sonoros, melódicos, ritmados e espontâneos. verdadeiro improviso de jazz.

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  3. também discordo de vc de filho, faço do comentário do ulisses e do pedro o meu. única ressalva' improviso de blue (The Yardbirds)

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